"Aquele Que é Espiritual"
por T. Austin-Sparks

Capitulo 1 - Espiritualidade, a Chave para Tudo o Que é de Deus

"Assim também está escrito: O primeiro homem, Adão, tornou-se alma vivente; o último Adão, espírito vivificante. O primeiro homem, sendo da terra, é terreno; o segundo homem é do céu". (1Cor. 15:45,47).

"O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito". (João 3:6).

"Mas, o que se une ao Senhor é um só espírito com ele". (1Cir, 6:17).

"Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai!"(Rom.8:14-15).

Além disto, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e os olhávamos com respeito; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, e viveremos? (Heb. 12:9).

"Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas O que é espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por ninguém é discernido". (1Cor. 2:14-15).

Espiritualidade, a chave para tudo o que é de Deus

Um fragmento dessa última passagem será o suficiente, como a chave para nossa consideração. “O que é espiritual”. A chave para tudo o que é de Deus é um estado espiritual. A espiritualidade é a porta e a chave para a porta do além de tudo o que se relaciona com Deus. Sem espiritualidade, não há como atravessar, a porta está fechada. A palavra “não pode-se” fica escrita como uma barreira intransitável - “não pode entender ou receber as coisas do Espírito de Deus”. Na realidade, nossas vidas são estabelecidas numa esfera de coisas espirituais. Deus é Espírito, portanto, a suprema Realidade, o fator supremo, o último ambiente deste universo – Deus – é Espírito. O Homem, na mais profunda e verdadeira natureza de seu ser, é espírito. Ele tem uma alma e um corpo. Forças malignas em grande poder rodeiam o homem nesta terra, e são forças espirituais. Ainda mais, toda a ordem temporal está constituída sobre princípios e significados espirituais. As coisas visíveis não são nada mais que símbolos de coisas espirituais; as coisas visíveis são tipos de coisas invisíveis. Deus constituiu todo este universo, em cada aspecto e detalhe, sobre uma base de princípios espirituais; são provas de algo mais do que nelas mesmas. Se Deus, Que é Espírito, faz alguma coisa, o faz com um significado, e o significado disso é dado pela mente de Deus. Toma sua maior significância a partir de Deus mesmo, portanto, sua maior significância é espiritual. É desnecessário, tenho por certo, e tomaria muito tempo (embora seria de tremendo proveito como também interessante) seguir nessa linha, e olhar a este visível, tangível, universo temporal, e acompanhar sua significância espiritual; no entanto é uma linha de consideração muito simples. Nós sabemos que por toda a Bíblia estas coisas da criação são usadas para representar coisas espirituais. O sol, a lua, as estrelas, e todas as outras coisas criadas personificam algum pensamento, significado e lei espiritual, para que, ao chegarmos à revelação de Jesus Cristo pelo Espírito Santo, encontremos uma inteira, compreensiva e detalhada contrapartida numa esfera espiritual do que temos na esfera temporal. Uma nova criação em Cristo Jesus com sua iniciação em Deus, Quem disse, que das trevas brilhará a luz, e Quem brilhou em nossos corações, para iluminação da glória de Deus na face de Cristo. (2Cor. 4:6). Aqui está o ato da nova criação, o novo decreto para trazer uma ordem espiritual, a qual, de maneira espiritual, reproduz todas as leis as quais restam detrás da criação da ordem natural. Não podemos continuar por isso agora, mas tenham-o em mente. É uma esfera muito forte e plena, pela qual podemos reconhecer realmente no que Deus está atrás, e dentro, e por todas as coisas.

Se nós estivermos apenas voltados à nossa composição pessoal física, e tivermos o conhecimento suficiente de nossos próprios corpos físicos, deveríamos ser capazes de traçar mais e mais leis espirituais em quase toda parte. Sou quase tentado a me render perante tal fascinante consideração, mas deixo isso para pessoas mais expertas. Mais aí está; Deus constituiu nossos próprios corpos sobre princípios espirituais. Somos, em nós mesmos, uma representação material de leis espirituais, e quando o Espírito Santo, pelo apóstolo, fala da Igreja como o Corpo de Cristo, Ele não está somente usando uma ilustração, Ele está dizendo que um sistema inteiro de leis espirituais que operam no corpo físico de um indivíduo, operam numa maneira espiritual no Corpo espiritual de Cristo, a Igreja. Assim como a violação de qualquer uma dessas leis ou princípios do físico traz para si um estado desequilibrado que levará à desintegração e morte final, assim, na Igreja, as mesmas leis se obtém: viola uma dessas leis, e você representará uma Igreja desequilibrada, se moverá para a desintegração e para fora de sua esfera das coisas vitais. Não devo ser detalhista.

Estou afirmando isto, que a chave para tudo o que é de Deus é espiritualidade. Aqui, em 1Cor. 15, o apóstolo está dizendo muito acerca do lado espiritual das coisas, e dentre essas declarações ele diz em relação ao corpo que não é O que é espiritual primeiro, mas aquilo que é natural, e seguidamente, aquilO que é espiritual. Podemos observar, aliás, que quando ele usa a palavra “natural” ele usou na verdade a palavra “almático”. Aquilo que é primeiro é o corpo almático, e depois, aquilO que é espiritual, indicando que o pensamento último e final de Deus é o espiritual. O apóstolo prossegue muito claramente em mostrar que este corpo, este corpo almático como tal, vai ser transformado. Mas há um embrião – o espírito é o embrião – de um novo corpo, e esse espírito será vestido com um corpo espiritual. É algo que não podemos entender completamente, mas podemos ver algo de como é quando lembramos que os quarenta dias depois da ressurreição de nosso Senhor Jesus foram usados precisamente para este mesmo propósito – demonstrar e estabelecer a natureza de um homem espiritual em sua final e plena constituição, visivelmente, como também espiritualmente. Não há nenhuma duvida que nesses quarenta dias, os apóstolos foram convencidos de que Jesus estava vivo, que eles tinham visto ao Senhor; eles foram deixados sem a menor sombra de duvida – nada os poderia abalar nessa questão. Mas que Senhor! Que diferença! - uma completa ausência de algumas coisas com as que eles estavam familiarizados. Ele estava lá, e Ele estava lá numa presença positiva – não um fantasma, não um espirito desencarnado, mas uma plena Masculinidade; e no entanto, que diferente! Ele estava usando os quarenta dias para mostrar qual é o final de Deus para o homem, a natureza das coisas quando Deus alcançar Seu final. “Depois O que é espiritual”. O final, último pensamento de Deus é o espiritual, e quero enfatizar que este propósito – do qual não estou falando acerca de vapores, sombras, sustos e fantasmas, e coisas flutuando pelo ar, nem estou falando acerca de atmosferas, mas acerca de algo muito real – se me for permitido dizer concretamente – quando falo acerca de espiritualidade. É algo muito prático. O Senhor Jesus procurou certamente, mostrar isso depois de Sua ressurreição. “filhos, têm algo de carne?” Ele pode fazer um fogo com carvão, Ele pode cozinhar peixe aí, Ele pode partir a comida e distribuí-la, e pode comer com eles, e ainda, num instante pode sair de vista. Dispensando tempo e geografia, Ele está num lugar e logo num outro distante, mas Ele é real. Não permitam que pensemos que estamos falando acerca de espiritualidade como algo impraticável, mítico, abstrato. Vamos ver que isto é uma questão muito prática; primeiro o que é natural, e depois, como o pensamento final e o alvo das atividades de Deus, O que é espiritual. O final e a vontade eterna será espiritualidade; seremos no sentido pleno, espirituais. Bem, isso é uma declaração geral.

Coisas Temporais Governadas pela Lei da Vaidade

Vamos ficando mais e mais perto do assunto. Começamos, então, em reconhecer que o mundo das coisas temporais é apenas uma sombra de outro que não tem nenhuma perdurável qualidade ou valores em si mesmo. É governado pela lei da vaidade, vaidade significa simplesmente que não pode, de si mesma, compreender seu próprio destino. Ela alcançará um ponto, e a partir desse ponto, da a volta nela e sobre si mesma; seus esforços, seus gemidos, suas labutas, nunca chegam a uma compreensão final de sua intenção. Nada nela, ou suas próprias propriedades, podem compreender propósitos e fins Divinos. É muito importante reconhecer isto.

Enquanto chegamos mais perto deste assunto, veremos como se aplica especificamente à obra cristã. Oh, quantas coisas são reunidas num Cristianismo organizado com a ideia de esforçarse para a efetividade! A ideia é essa, se você puder ter estas coisas, você vai conseguir resultados. Dinheiro – oh, quanto poderia ser feito se apenas tivéssemos dinheiro! Devemos ter o dinheiro! Pergunto, como era no Livro dos Atos? Foi feita alguma coisa? Com todo o dinheiro hoje, quanto é feito por um perdurável, eterno, valor espiritual? Se apenas pudesses conseguir nomes e títulos nos teus programas e publicidades, você iria efetivar alguma coisa! Iria? Se você puder conseguir reputação, erudição, aprendizado, habilidade, força física, agudeza negociadora, a obra será efetiva! Será? Quero dizer que em nenhuma destas coisas, nem em todas elas postas juntas, nelas mesmas, há algum valor espiritual, e pode haver uma quantidade muito grande de valor espiritual sem nada disso em absoluto. Deus tem se empenhado por ambos lados em provar isso. Ao longo da linha de nossas presenças, em abundancia, Ele tem provado nossas futilidades espirituais; e ao longo da linha de tomar as coisas pequenas, e desprezadas, e as tolas, e as coisas que não são, por meio de algo que não é nada em si mesmo, Ele tem demostrado através das épocas Seu próprio poder, e feito coisas poderosamente frutíferas para a eternidade. Bem, isso é simples e obvio, e é uma contribuição mais a este fato, que é espiritualidade o que conta, que é a coisa efetiva, aquilo que consegue passar, e nada mais. O aprendizado, o dinheiro, e todas as outras coisas, podem ter seu lugar, contanto que não governem, contanto que sejam subservientes aO que é espiritual e nunca tidas como as coisas que vão realizar a obra: contanto que nunca seja assumido que se você tiver estas coisas, uma grande obra para Deus pode ser realizada; Deus deixará evidente a tolice dessa hipótese. Uma grande extensão de coisas são empregadas pelo Cristianismo organizado para assegurar fins Divinos, mas não funciona. Bem, essa é a primeira coisa que notamos em conexão com espiritualidade.

Nossa Reconstituição Como Seres Espirituais

Prosseguimos em seguinte lugar reconhecendo que, para propósitos espirituais que são Divinos, eternos, últimos – temos que ser reconstituídos num nível e base espiritual. Isso, é claro, é bem o coração de João 3. Nicodemos está interessado, e preocupado acerca do Reino de Deus, querendo saber disso, e chegou até o Senhor Jesus pela noite, evidentemente para falar acerca do tema. Ele tinha, como todos os israelitas, uma inteira concepção temporal do Reino, uma ideia terrena. Era algo formal, um assunto oficial. O Senhor Jesus não perde nenhum tempo com nada disso. Simplesmente desconsidera tudo isso, o ignora, e diz, “deves nascer de novo”. Se um homem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”. Isso é elementar, mas estamos chegando a este fato, que, a fim de realmente conhecer algo sobre as coisas de Deus, (e vejo o Reino de Deus como essa esfera na qual tudo o que ela obtém é de Deus, aquilo que pertence a Deus) temos que ser constituídos segundo Deus. Nada é possível até que sejamos reconstituídos num novo principio, até que sejamos, em outras palavras, constituídos seres espirituais numa nova forma. Os próprios começos das coisas em relação a Deus são que elas são uma nova e completamente outra constituição, tão absoluta como seria reconstituir de nós uma vida para viver como peixe – ou talvez ainda mais. Temos que começar de novo. Para até com as primeiras coisas de Deus, isso é necessário. Eu sei que não estou dizendo algo que é novo em si mesmo para vocês, mas sinto muito que tenha que haver uma reconsideração da inteira concepção cristã das coisas, se vamos ter efetividade.

As ideias de realizar a obra de Deus, e de qual é Sua obra, estão muitas vezes longes da verdade. As ideias dos meios pelos que Deus operaria são muitas vezes extensamente fora do âmbito da aceitação de Deus. Estamos interessados com real efetividade espiritual, ou não é? Então, temos que aprender o seu segredo; é atrás disso que estamos indo. Existe um aleijante, paralisante “não pode-se” repousando sobre o natural, o homem almático, onde as coisas de Deus são concernentes; e ainda, quanto dessa vida almática é empregado e dependido hoje no Cristianismo para assegurar fins espirituais! Se você apenas puder conseguir atmosferas de altas tensões, uma boa quantia de agitação, movimento e emoção; se apenas você puder conseguir certas condições causadas por uma pessoalidade energética, poderosa, com seu impacto sobre o povo; então você conseguirá resultados! E uma grande quantia de resultados é obtido! Mas não é espiritual, não é perdurável e eterno. Mas desafortunadamente, as consequências não são limitadas a isso. Isso complica mais e mais esta grande tragedia de pessoas terem tentado e serem desapontadas, determinando nunca tentar novamente. O mundo está espargido com pessoas que têm tido uma experiência e nada mais. Oh! O diabo é inteligente!

Estamos dizendo que existe um abismo sem ligação entre o natural e o espiritual, e não pode haver nenhum translado; e ainda no Cristianismo de nossos dias, existe um tremendo translado do natural para o espiritual. Encontramos que a esfera das coisas de Deus é simplesmente cheia de elementos naturais, e estão todos paralisando o espiritual. Deve haver uma tremenda remoção de todo este abafo e envoltório de elementos naturais – homens chegando com seus ímpetos, ideias, concepções e maneiras. Está matando a obra de Deus. Até que isso seja lidado no poder da Cruz de nosso Senhor Jesus e tudo for posto de lado, e Deus ficar livre para realizar Sua própria obra pelos Seus próprios meios ao longo de Suas próprias linhas, não haverá nenhum comensurado resultado. Os meios de Deus e jeito de Deus é espiritualidade, desde o inicio até o término, o impacto de uma constituição espiritual. Sim, há um abismo sem ligação entre o natural (o almático) e o espiritual, e não pode haver nenhuma transportação. Olhe para o fato. É surpreendente que muito frequentemente, uma pessoa de uma bastante considerável perspicácia natural, aprendizado, inteligencia e habilidade neste mundo, não é ninguém em coisas reais espirituais, embora possa ser cristão. Não é você amiúde em contra disso? Um homem cristão pode ser tremendamente capaz em assuntos de negócios e o mais agudo em suas realizações negociadoras, cheio de inteligencia e sabedoria mundana, capaz de carregar o peso de uma imensa questão, ser a força propulsora de uma grande empresa, um homem de peso e consideração neste mundo, mas quando se trata de coisas espirituais, ele pode ser um bebê. Você fala acerca das coisas do Senhor, e essa grande mente é completamente vencida pelas coisas mais simples da vida espiritual. Você não pode ir falando por aí acerca do Senhor. Amiúdo fico maravilhado ao me encontrar e falar com homens cristãos que estavam assumindo grandes responsabilidades, e tinham, sem nenhuma duvida, grandes habilidades, e quando você fala acerca de coisas espirituais, eles são incapazes de dizer alguma coisa, de fazer alguma contribuição; você está falando numa outra esfera. E ainda eles sabem que são nascidos de novo, e eles têm estado assim por um longo tempo. Qual é o problema? Bem, há um abismo. Todos eles têm essa grandeza no lado natural, mas eles são muito pequenos no espiritual. Tudo o que eles têm de habilidade intelectual, equipamento e poder em qualquer meio, para manejar grandes coisas naturalmente, lhes servem em lugar nenhum quando eles tratam de manejar as coisas de Deus; ao passo que, alguém que não tem nada disso, na esfera de coisas espirituais é um gigante, um mestre. Bem, isso é um lugar comum em nossa experiência.

Mas isso nos traz de volta para isto, que existe um abismo, e não existe nenhuma ponte por este abismo, não existe transportação de um lado para o outro. A palavra “não pode-se” fica aí. Aqui, a palavra não é sobre o não-regenerado, o excessivamente pecador. É o cristão que ainda é natural, vivendo na base de sua alma, ao invés de na esfera de seu espírito renovado. O homem natural “não pode”. Essa é a porta fechada nas coisas espirituais. Seja quem for em coisas naturais, em coisas espirituais é um bebê ou um tolo.

Falsa Espiritualidade

Agora chegamos ao seguinte, o reconhecimento de que existe uma falsa e imitada espiritualidade que é puramente almática. Parece com espiritualidade, e se faz passar por ela, assume ser espiritual; mas é falsa, é imitação. A encontramos no misticismo, e o misticismo pode ir por um longo caminho dissimulando O que é espiritual. Estetismo muitas vezes parece espiritualidade, e tem sido confundida com ela. Existe uma vasta porção de religião que pensa e alega ser espiritual, e no entanto, é puramente estetismo, ou mistico, ou almático; não é espiritual em absoluto. Existe uma percepção almática que é a falsificação da apreensão espiritual. É puramente psíquica. Tem você se encontrado com pessoas que enxergam através, e têm uma percepção em coisas de uma forma notável, e no entanto, não são pessoas espirituais? Eles têm uma percepção psíquica, suas almas são sintonizadas para coisas que não são aparentemente ordinárias. Temos ficado frequentemente impressionados e perplexos com isto. Eles podem falar do diabo, do sistema espiritual, usar a linguagem bíblica; eles podem falar acerca de coisas da Bíblia e conseguir ficar por trás da linguagem escrita, de algum jeito remoto obtendo interpretações que não são obvias. Existem certas constituições nacionais que são peculiarmente caracterizadas por esta mesma coisa. Acredito que os gálatas eram assim. Se você traçar a história dos gálatas, você vai ver que esta é a peculiaridade de uma raça. O povo da Gália, de onde os gálatas vieram, são assim. Existe algo psíquico neles, e parece-se com a percepção e entendimento espiritual. É falso. Você o pode ter em sua forma extrema; você o pode ter em formas mais moderadas. Existe uma falsa espiritualidade ao longo dessa linha, falso conhecimento espiritual o qual é simplesmente uma interpretação mística. Existem pessoas com fraseologia sem estarem claros; estão envolvidos, mas quem são depois de tudo? Eles estão tentando ser espirituais na base de revelação, vendo coisas que ninguém vê ou pode ver. Tenham cuidado! O inimigo sim simula cada verdade a fim de destruir a verdade. Temos que estar numa posição verdadeira, e existe esta falsidade, interpretação mística. Você pode conduzir a tipologia a um extremo, podes forçá-la até um ponto onde perde seu valor, tornando-se quase um ridículo. O discernimento espiritual é falsificado, e mostra-se ao longo da linha de premonições e segunda visão; é tudo almático. A consagração é muitas vezes falsificada pelo estetismo, uma falsa consagração. O monasticismo da idade média, e o que resta disso é uma interpretação falsa de espiritualidade, de consagração. É puramente almática, e qual é o real valor espiritual para qualquer um? A vida pode ser, e muitas vezes é, falsificada; euforia, mesmo histeria, é pensado ser vida espiritual. Vocês sabem como todos nós somos inclinados a isto. Há momentos em que temos uma euforia por uma apresentação, uma abertura esperada, e nesse momento nos sentimos que está tudo vivo. Lhe damos uma chance, o provamos, esperamos um pouco. A coisa morre em nós. Onde está toda a vida que tínhamos naquilo tudo? Era meramente uma euforia, algo que apelava às nossas almas e que encontrou uma resposta lá. Portanto, testem as coisas, dai-lhes um tempo, levem-nas a uma outra atmosfera e vejam como é que vivem aí. É muito fácil cair numa falsa posição quando há uma condição aquecedora, você pode conseguir muitas coisas brotarem rapidamente, parecendo ser crescimentos genuínos. Mas levem-nas para fora e elas murcham. As coisas de Deus não fazem isso, elas sobrevivem a todas as atmosferas, elas vivem embora a morte compreenda. Sua vida não é uma presa às condições terrenas; ela triunfa. Tudo pode ser falsificado, e existe uma falsa espiritualidade ao longo de cada linha.

Notem a diferença, e depois, entre o que é verdadeiramente espiritual e o que é falsamente espiritual. Não é evidente que quanto mais formalismo, ritual, ordem externa, menos é a vida espiritual real, comida e plenitude? Você não pode ter mais formalismo, ritual e todo esse sistema de coisas do que podes achar na basílica de São Pedro, em Roma, mas te desafio a estar realmente vivo espiritualmente e em contato com Deus, e ser capaz de viver nessa atmosfera. É uma das coisas das que destacam-se em minha própria experiência. Sempre tive desejo de ver a basílica de São Pedro, e fui, e fiquei feliz em sair do lugar. Era morte, sufocação. Mas não aceitaria isso finalmente por dado. Voltei de novo uns anos depois, estive várias vezes. Ao final tive que dizer, acabou, não mais disso! Não é somente morte, mas tem algo malvado, algo que entristece o Espírito de Deus em você. E porém, olhem para isso, vejam eles prostrando-se a si mesmos, suas "adorações”, seus “louvores”; mas está morto. Esse pode ser o extremo final das coisas, mas isso pode ser graduado e modulado; e me permitam dizer sem hesitação, a medida de ritual externo, formalismo e esse tipo de coisa, determina a medida de espiritualidade. Quanto mais tiver disso, menos você tem verdadeira vida espiritual, comida espiritual real. Uma vida real com o Senhor é algo muito simples, tosquiado de toda a arte da religião; uns poucos filhos de Deus reunidos juntos em algo que não tem tradições eclesiásticas, nem enfeites, nem formas externas, mas apenas, simplesmente se reunindo no Nome do Senhor: ai você tem vida, poder, plenitude. Não estou dizendo que as coisas devam ser vulgares a fim de ter espiritualidade: estou dizendo que a lei de vida é espiritualidade.

Isto funciona numa outra forma. Quanto mais perto da terra ficamos, mais sentimos nossa própria importância. O homem é maior quando está mais perto da terra; e é mais pequeno quando está mais distante dela. Me lembro da minha primeira vez num avião; a dez mil pés de altura, olhei para abaixo à terra que significava tão desgastante labuta para atravessar. Parecia apenas polegadas de grande, as pessoas e animais eram como brinquedos. Quanto mais perto do céu você chega, menos importante são as coisas da terra. Todos estes enfeites religiosos é a importância da terra, do mundo. Quanto mais perto você chega das coisas espirituais e celestiais, menos da terra você quer, tudo se devanece; você vê como de mesquinho e insignificante realmente é. Vejam a Igreja desde o céu, e tudo isto que acontece aqui abaixo é como jogar em ir à igreja; é demasiado pequeno. Existe uma grande diferença na constituição espiritual.

Resumindo o que estou a dizer: espiritualidade, corretamente entendida, é o segredo de tudo o que pertence a Deus. Logo desde o começo de nossa vida com Deus, temos que ser reconstituídos como seres espirituais. “o que é nascido do Espírito é espirito”. “O que é espiritual”. “Os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são os filhos de Deus”. Mas existe uma coisa falsa para falsificar e simular espiritualidade, e não é algo objetivo de nós, é construído a partir de nós mesmos. Nós fazemos deuses a partir de nossas imagens, nossas almas produzem seus próprios sistemas, mesmo na religião; e o Espírito produz Seu sistema. Diz a mulher ao Mestre, “nossos pais adoravam nesta montanha; e você diz, que em Jerusalém é o lugar onde homens devem adorar”. O Senhor Jesus disse, “mulher, me creia, a hora vem, e é chegada, quando nem nesta montanha, nem em Jerusalém, adorarão o Pai...Deus é Espírito; e aqueles que adoram Ele devem adorá-Lo em espírito e em verdade” (João 4:20-24). isto quer dizer que, este Monte Gerizim e seu templo, e o templo em Jerusalém são puramente temporais, terrenos, coisas da alma do homem. Homens devem ter algo que ver, que manusear, algo que possam apreciar pelas faculdades de suas almas, mas essa não é a esfera das coisas, pois Eu, o Senhor, cheguei. Aquilo é o natural, é passado. Agora, o espiritual vem – nem aqui nem lá, não é uma questão do lugar ou qualquer coisa dessas na terra. É em espirito com o Pai.

Essa é a ordem, essa é a natureza e caráter desta dispensação.


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